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Câmara cede erário público para desbloquear obra junto à Praça

O estado da obra durante anos

Recomeçaram as obras no prédio fantasma no centro de Torres Vedras ao lado do Mercado Municipal, uma nódoa entregue aos ratos, sem que tenha havido uma solução para devolver o espaço à cidade. Infelizmente, para desbloquear o assunto, o erário público abdicou de contrapartidas na permuta dos terrenos, em cerca de 350 mil euros.

Trata-se de uma zona central em Torres, onde estavam projetados estacionamentos, lojas, habitação, a Loja do Cidadão e o arranjo de um espaço importante de encontro dos torrienses, revitalizando a zona histórica, que tanto necessita.

A história remonta a 2010, quando a empresa Construtorres avançou com a obra. O terreno é da Câmara Municipal e a permuta inicial com a empresa previa que ficasse para a Câmara uma área 1345 metros quadrados destinado à Loja do Cidadão e 46 lugares de estacionamento.

A obra parou, devido a problemas com a empresa e o resultado foram anos de degradação e abandono que todos assistimos. Houve pessoas lesadas que compraram andares na planta e o erário público também o foi, por ter ficado por cumprir o contratualizado com a autarquia.

O executivo, em vez de renunciar definitivamente o contrato e zelar pelo interesse público, conforme muitos defendiam, voltou recentemente a fazer novo acordo, onde cedeu mais contrapartidas. O espaço de loja reduziu para 900 metros quadrados e menos 9 lugares de estacionamento. Este novo acordo, votado pela autarquia em abril de 2022 e ratificado pela Assembleia Municipal, cedeu valores substanciais do erário público em troca de um terreno que é público e que se estima possa valer 2 milhões de euros. Esta tentativa de desbloquear o impasse legal da obra, sofreu críticas da oposição na Assembleia de 27 de abril de 2022, onde se defenderam outras soluções como revogar a permuta e vender o terreno em esta pública, por exemplo.

A oposição considerou que o interesse público foi lesado, mas a maioria socialista aprovou a permuta, sob a justificação de ser uma solução de emergência, permitindo maior benefício ao atual construtor, para que acabe a obra, sendo esta solução do agrado da assembleia de credores e da entidade bancária que financiará o projeto.

Deputados da oposição de todos os quadrantes chamaram também atenção nessa reunião pública, para o facto da atual empresa beneficiária do acordo, poder não ter capital e envergadura económica para acabar a obra, bem como ter ligações familiares à antiga Construtorres, que a iniciou, pondo também em causa o papel da autarquia, que poderia ter conduzido melhor este processo desde o início.

A presidente Laura Rodrigues afirmou que o terreno, mesmo sendo da autarquia, tem um prédio inacabado em cima e com um processo judicial complexo, e isso requeria fazer parte de uma solução, que pudesse por fim ao problema.

Foi estimado pelos deputados que o diferencial do primeiro protocolo para o atual, representará uma cedência de cerca de 350 mil euros. A oposição votou contra ou absteve-se e o PS sancionou o novo protocolo. Hoje, quase dois anos depois desta decisão as obras estão finalmente a dar sinais de vida e vamos ver se é desta.

Não deixa de ser lamentável que a Câmara tenha de ceder, quando é efetivamente lesada e proprietária do terreno. Aqui temos um exemplo em como as relações negociais entre construtores e autarquia podem levar a prejuízos para resolver uma situação que é da inteira responsabilidade de uma empresa privada. Por isso é tão importante para quem governa uma autarquia ter o interesse público como primeira prioridade e ser intransigente na sua defesa, desde o primeiro momento de cada projeto.