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Grávidas de Torres vão para Leiria a mais de 100 quilómetros

A maternidade de Caldas da Rainha anunciou o seu encerramento para obras, de 1 de junho até outubro. Fecham o Serviço de Obstetrícia, nomeadamente internamento, bloco de partos e urgência obstétrica. As grávidas caldenses vão ser encaminhadas para Leiria, 50 quilómetros a norte.

As de Torres Vedras têm o mesmo destino. De acordo com o CHO, todos os novos casos da área de abrangência deste Centro Hospitalar são deslocados para Leiria, o que significa um trajeto de mais de 100 quilómetros e mais de 1 hora de viagem.

Dizem-nos que vão fazer obras no CHO das Caldas e que isso implica fechar estas valências. Fecha-se assim um serviço destes sem acautelar alternativa, mesmo que provisória, sabendo que a área desta maternidade vai desde Alcobaça a Mafra, uma zona que serve 300 mil utentes?

Isto acontece depois do recente encerramento das urgências pediátricas de noite, configurando o pior pesadelo dos pais torrienses, que têm de se deslocar 50 quilómetros de madrugada com um filho doente. Um muito provável primeiro passo para o seu encerramento definitivo. 

O silêncio dos nossos autarcas já se tornou num barulho ensurdecedor face a mais este problema criado a Torres Vedras.

Soube-se pela imprensa e por um lacónico comunicado na página do CHOdo encaminhamento para Leiria. Se formos ao site da autarquia de Torres, encontramos todo o tipo de notícias promocionais da campanha eleitoral socialista que decorre por 4 anos, com imensoseventos sociais, recreativos, culturais, mas onde não se encontram os assuntos que realmente mexem com a nossa vida e com os nossos problemas, nem uma posição firme sobre esta degradação permanente.

Torres Vedras já teve todos os serviços de obstetrícia, maternidade e saúde infantil e perdeu-os todos paulatinamente, nomeadamente os materno infantis de neonatologia, maternidade, internamento pediátrico, consultas pediátricas e agora nem de noite há urgências. Em todo o Oeste não há cuidados intermédios nem intensivos.

Em termos de saúde familiar sabemos ainda que metade da população do concelho, com 80 mil habitantes, não tem médicos de família e os concursos continuam desertos. 

A rede de novas Unidades de Saúde está atrasada, ainda com obras em papel e as Unidades atuais ou não têm médicos ou funcionam de forma penosa com part-time, avençados, horas extras e boas vontades. Uma rede sem equipas, sem condições e sem respostas. Quando não há médico nas freguesias, os utentes recorrem a Torres Vedras que está a acusar a sobrecarga.

Só o Hospital do Oeste gasta perto de 9 milhões de euros por ano em médicos avençados, e no Centro de Saúde são necessárias cerca de 200 horas semanaispara tapar buracos, mas mesmo querendo contratar médicos temporários, já faltam. Tantos médicos que se contratariam com estas verbas.

Para cúmulo, os autarcas de Torres Vedras nem conseguem que o Ministro do seu próprio partido, anuncie a localização para um novo Hospital, prometida para março.

Este governo está paralisado, os autarcas coniventes, a garantir lugares políticos como bons alunos e a população incrédula a olhar em volta pedindo cuidados de saúde e a ficar sem opções no SNS. A culpa desta situação é do Governo, não das direções locais do CHO e Centro de Saúde, como os nossos autarcas do PS querem fazer crer, ao pedirem as suas demissões. A falta de valorização e contratação de médicos e de outros investimento no SNS,está na ausência de decisões centrais, de vontade políticae muita hipocrisia.

É o desmantelar a olhos vistos, que se iniciou no Governo PSD/CDS em 2012com a criação do CHOe continua sob a batuta de uma maioria socialista, que tem todas as condições e verbas para resolver o problema. Mas temos um Ministro que não passa de um porteiro de Hospital a afixar na porta das urgências as horas de abertura e fecho.

Em termos nacionais foi anunciado que nesteVerão, vamospagar partos ao privado com o dinheiro que devia ser investido no SNS, a somar aos milhares de milhões que já são transferidospara serviçosprivadose contratação de tarefeiros, que consomem mais de 40%do orçamento do próprio SNS.

Já passámos todos os limites, não há mais tolerância para isto, a saúde pública está em perigo de venda a retalho e parece que ninguém é responsável.

No dia 3 de junho, sábado pelas 15 horas, no Largo Camões vai realizar-se uma enorme manifestação pelo SNS, organizada por dezenas de organizações na área da saúde no movimento, “O povo merece mais SNS”, iniciado por quinhentos profissionais e utentes, entre eles artistas, escritores e sindicalistas de diversos quadrantes.

Os torrienses têm todo o direito a manifestar a sua indignação e ir a esta iniciativa de cidadãos. Já não temos nada a esperar de quem nos governa, temos de tomar nas mãos esta luta e ir para a rua exigir o futuro do SNS.