Vive-se uma situação de enorme sobrecarga nas urgências em Torres Vedras que tem levado à transferência de doentes. Também no próprio Hospital das Caldas os responsáveis pela equipa de urgência demitiram-se das funções de chefia, alertando para uma situação de rutura. Sobre as consultas de especialidade sabemos dos atrasos e dos tempos de espera, das dificuldades de internamento, das macas que acabam nos corredores e sobre o atendimento no Hospital de Torres, as esperas na sala das urgências, muitas queixas se ouvem dos utentes e de quem lá trabalha.
As equipas estão esgotadas e os turnos começam a ficar vazios, também na área pediátrica. Voltámos à crise nas urgências pediátricas de Torres, que ficaram sem especialistas na Páscoa, com encaminhamento de utentes para as Caldas e dali para Lisboa, num pesadelo que voltamos a reviver.
Os próprios bombeiros de Torres alertam para as dificuldades no socorro pela retenção de ambulâncias e macas, bem como as deslocações para Caldas e Lisboa, conforme declarações do próprio comandante, que confirma a necessidade de recorrer a corporações vizinhas.
Os problemas estruturais pré-pandemia, voltam redobrados quando aumenta a procura das urgências devido a doenças respiratórias que circulam na comunidade a níveis elevados. O Centro Hospitalar apelou para que apenas ali se dirijam as verdadeiras urgências. Mas será que os utentes encontram nos cuidados primários a resposta?
Continuam a faltar médicos de família, bem como se mantém a saga dos Postos de Saúde sem médicos, sem meios de diagnóstico próprios, as deslocações e falta de transportes, enfim, a falta acesso a um direito fundamental. São 20 mil pessoas sem médico de família na AECS Oeste Sul.
Continuamos a não contratar médicos para os quadros do CHO, mas pagamos imenso com a à hora em prestação de serviços para atamancar. Recentemente tivemos notícia da não renovação de contratos a termo de 15 enfermeiros das urgências, também eles em exaustão, não sendo certo se será possível reaver estes recursos, que mostraram ser muito mais necessários do que apenas para suprir necessidades temporárias.
Os profissionais estão esgotados, as condições degradam-se, especialmente nas urgências, multiplicando-se relatos e notícias de enormes dificuldades e de uma degradação na assistência na saúde em geral. Para além disso, as condições de trabalho e de sobrecarga horária, a par de remuneração insuficiente dos profissionais, são um enorme desincentivo, que leva ao abandono.
Precisamos de respostas e de ações dos eleitos e da força da população
O SNS necessita neste momento, de todo o apoio, mas o que continuamos a assistir é a um desinvestimento sucessivo de vários Governos e que, independentemente do que possa ser dito, o resultado está à vista. Para este ano, com a inflação prevista, as perspetivas de um reforço no orçamento são desanimadoras.
O CHO serve cerca de 300 mil habitantes, sendo que o Hospital de Torres e as suas urgências servem cerca de 173 mil de Torres Vedras, Cadaval, Lourinhã e grande parte do conselho de Mafra (11 freguesias). Como se explica uma área tão vasta com uma situação destas a arrastar-se sem que ninguém nos mostre alguma luz ao fundo do túnel?
A questão que colocamos é saber, o que está a ser feito pelo poder central, mas também pelo poder local que, não tendo competências diretas, tem a força da razão e a emergência das populações, que obriga a uma denuncia firme deste completo desrespeito pela nossa região.
Comemorámos no 25 de abril e uma das suas maiores conquistas que foi o Serviço Nacional de Saúde, onde todos os portugueses podem ter um atendimento de qualidade, independente do seu nível económico e isto é um bem que não podemos deixar desbaratar.
Infelizmente, os autarcas do Oeste, ainda nem chegaram a acordo em relação a uma localização para o necessário novo Hospital. Mas independentemente disso, a curto prazo há muito a fazer no atual CHO.
Temos um governo do PS com maioria absoluta, temos uma autarquia do PS em Torres com maioria absoluta, temos seis das doze autarquias da CIM Oeste com maioria absoluta socialista.
Está na hora de pressionar e não de pensar em poder ou reeleições, porque brevemente iremos responsabilizar quem foi eleito e que pode exercer essa luta e mover a sua influência até nas prioridades de um quadro comunitário com possíveis investimentos.
A saúde pública foi, sem dúvida, o tema mais premente focado na campanha eleitoral autárquica como a principal preocupação dos cidadãos. Foram eleitos autarcas para um mandato que os responsabiliza perante os seus munícipes e a escolha é simples: vamos fazer ouvir a voz do sentir popular, ou vamos continuar a ser bons alunos?
Sabemos a quem interessa esta situação, mas também sabemos que o silencio e a inação se transformam em cumplicidade e no abandono dos cidadãos à sua sorte, numa altura em que se encontram mais fragilizados.
Jorge Humberto Nogueira
Professor e Dirigente do Bloco de Esquerda de Torres Vedras