Com os novos desenvolvimentos sobre a localização da Subestação de Tração Elétrica em Runa, no âmbito da eletrificação da Linha do Oeste, ficaram claras as divergências entre as entidades oficiais e a população, que não aceita uma suposta alternativa surgida de forma inexplicável.
Existem alternativas propostas pelos movimentos de runenses, que não estão a ser tidas em conta, mas a população não desarma e fez questão de o tornar público numa reunião popular no passado dia 25 de abril.
No sentido de aferir o posicionamento da autarquia, o deputado João Rodrigues do Bloco de Esquerda, apresentou na Assembleia Municipal de 27 de abril uma recomendação à Câmara, para que esta ouvisse os runenses e se posicionasse publicamente ao lado da população na exigência de estudos sérios para verdadeiras alternativas, reiterando que as atuais localizações não passam de erros a todos os níveis e não correspondem às diversas propostas que realmente seriam consensuais para resolver os enormes impactes negativos.
Por isso era recomendado que a autarquia desenvolvesse “todos os esforços, para que se implemente a Subestação numa outra localização e se encontrem soluções de menor impacte, através de estudo credíveis e fundamentados, onde os impactes para Runa sejam o fator principal de decisão”.
Esta recomendação, foi chumbada com os votos contra do partido socialista, mostrando definitivamente a verdadeira preocupação por esta situação. Ficou explicado porque a autarquia nunca se preocupou verdadeiramente com a questão, nem durante a discussão pública nem posteriormente. Não se pense que se trata de uma questão menor, pois mostra onde está verdadeiramente a linha entre a retórica e a ação. Nada como a realidade e a clarificação, para demonstrar, o verdadeiro interesse em proteger as populações.
Os impactes negativos são sobejamente conhecidos, já muito se falou sobre eles e a posição da população tornou-se perfeitamente clara numa reunião popular no dia 25 de abril, onde dezenas de populares mostraram a sua insatisfação sobre a forma como o assunto lhes foi escondido e como uma suposta alternativa apareceu, apenas para calar os protestos.
Em comunicado, a plataforma Runa Acontece, refere a não aceitação da nova proposta de localização, que será alvo dos protestos da população. Torna também claro que há localizações alternativas, que as entidades teimosamente recusam estudar e levar a sério, como se pode ler pelo comunicado: “Todas as sugestões de locais alternativos apresentados por Humberto Sebastião, e em nome da Plataforma Runa Acontece, que são fora da malha urbana, foram rejeitados com argumentos que, para nós não têm qualquer cabimento”. Uma delas seria na zona da ETAR, com acessos e possibilidade de construção a meia encosta para salvaguardar cheias, outra seria na continuidade da linha férrea, mais a Sul na área da Quinta da CasaBoa, mas afastado de habitações.
Esta teimosia da IP vem de longe. A verdade é que nunca foram consideradas soluções alternativas. Nem as apresentadas em sede de discussão pública, nem as que foram solicitadas pela própria Agência Portuguesa do Ambiente, APA, no estudo prévio, que a IP ignorou, levando depois um “puxão de orelhas” da Comissão de Avaliação Final, CAF, por não ter feito qualquer estudo alternativo, limitando-se a insistir no que escolheu anteriormente, conforme registo demolidor na página 17 do relatório da CAF de 2019.
Portanto esta situação de localização alternativa não é de desvalorizar, pois é um problema que vem de trás e que não foi devidamente estudado e acautelado, ou sequer discutido com a população, o que demonstra falhas graves no processo.
Na Assembleia Municipal o PS apresentou o argumento do fato consumado e da chantagem, através da velha ameaça de que, alterar o projeto agora, poria em causa toda a obra e os financiamentos comunitários. Triste argumento este, dado que quem na realidade colocou tudo em causa, foram as entidades que achavam que eram donas de tudo e ignoravam impunemente as populações, os impactes negativos e o estudo de alternativas, sem que ninguém reparasse, ainda por cima com o fechar de olhos de quem deveria ter estado muito atento a esta situação.
Para além disso, este argumento não colhe, uma vez que a IP recentemente aceitou estudar uma nova alternativa. É a alternativa que lhe convém, para tudo ficar na mesma, é certo, mas não deixa de ser um recuo e a assunção de que é possível fazer essa emenda.
Não é lícito jogar-se no arrastar do tempo e no fato consumado, condenando os runenses à resignação de viver o resto das suas vidas paredes meias com aquela estrutura.
Agora as posições estão claras. Runa sabe quem está do seu lado e sabe como tudo se passou. Resta agora saber se esta luta de David e Golias, vem demonstrar que as populações quando se unem, conseguem vencer.