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Um concelho coberto de eucaliptos é a melhor forma de construir o futuro?

Eucaliptal
Jorge Humberto Nogueira

Na Assembleia Municipal do passado dia 23 de fevereiro foi aprovado o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios de Torres Vedras.

Tem um conjunto de medidas de prevenção e mitigação dos riscos de incêndio, que, apesar de importantes, sugerem-nos outro tipo de análise, ou seja, a forma como a floresta se deveria organizar e como deve ser gerida em termos de exploração da mesma.

Nesse particular sabemos que 79% da área florestal de Torres Vedras são eucaliptos. Isto significa 8.400 hectares. Quando, por exemplo, o pinheiro bravo representa apenas 7% e as restantes espécies rondam apenas os 2%. Estamos a falar de 20% da área total do concelho com eucaliptos.

Apesar dos alertas dos ambientalistas e das entidades científicas acerca da necessidade de não aumentar a área de eucalipto, o Governo aprovou em 2022 a Portaria Nº 18 de 5 janeiro, onde essa área é aumentada, por exemplo, em Torres Vedras em mais 825 ha.

Nos últimos 4 anos verificou-se um aumento do peso do eucalipto na área florestal do concelho em mais de 10%, de 67,8% em 2019, para os atuais 79%, com redução das restantes espécies.

Deve preocupar-nos a forma como estamos a gerir o nosso futuro com esta atitude de olhar a floresta apenas como um negócio, que alimenta a indústria da celulose.

Não temos aqui um equilíbrio que seria importante, este plano foca-se apenas nas vantagens económicas, replantando sucessivamente as mesmas zonas, e criando uma mancha contínua com a mesma espécie, com os resultados negativos que daí vêm.

O eucalipto, para além de altamente inflamável, tem um efeito na erosão dos solos (na instalação e no pós corte dos povoamentos) e é conhecido pela sua avidez de água.

Além disso, os povoamentos de eucalipto apresentam menos biodiversidade que os povoamentos de espécies autóctones. Esta espécie, dada a sua elevada flamabilidade, e eficiência na utilização da água, diminui a possibilidade de existência de zonas húmidas e refrescantes, que funcionam como barreiras à progressão dos incêndios, como acontece com outras plantas e árvores.

Este seria um trabalho de gestão do território com preocupações ambientais, ainda para mais com a situação de escassez crescente de água, quando necessitamos de estratégias para reter a água nos terrenos.

Como as vamos gerir, promover e organizar no território de forma a sermos mais sustentáveis?

Seria necessária uma intervenção concertada com proprietários e restantes intervenientes, equacionando até apoios estatais, no sentido de gerir a nossa floresta como um todo, não apenas pelo retorno económico de cada proprietário, mas prevendo a criação de zonas com diversidade de espécies, com faixas de folhosas autóctones, pensando num concelho verdadeiramente verde, com biodiversidade, repondo espaços naturais protegidos. Há outros retornos importantes em termos de ambiente.

Os bosques nativos são fundamentais para o equilíbrio ambiental que procuramos. Todas as entidades terão de estar alinhadas e as autarquias devem desempenhar um papel importante nesta construção.

Quando foi a última vez que passeamos no concelho num bosque com carvalhos, sobreiros ou pinheiros mansos?

Quantas reservas naturais zonas naturais com biodiversidade temos?

"Para além da Serra do Socorro, que é “Área Protegida de Interesse Local”, nada mais existe, mesmo assim, na encosta norte, há uma vasta plantação de eucaliptos já no concelho de Torres Vedras".

A Rede Natura 2000 protege apenas uma pequena faixa de falésia e dunas em Torres Vedras.

Será que ter um concelho em que 80% da área florestal são eucaliptos e onde não existe diversidade é a melhor forma de sermos sustentáveis e protegermos o ambiente e o futuro do nosso concelho?