A Câmara Municipal de Torres Vedras divulgou em novembro nas redes sociais a sua satisfação por estarmos em 30º lugar na lista dos municípios com maior “Índice de Poder de Compra Concelhio”. Congratulou-se ainda por estarmos à frente de todos os municípios do Oeste e, na Região Centro, sermos o 5º maior apenas atrás de Coimbra, Leiria, Aveiro e Viseu, que são capitais de distrito.
Sabendo que em Portugal há 308 concelhos em 18 distritos, dito desta forma e sem mais dados, fica a propaganda de que somos um concelho no top 30 financeiro e que isso será uma vitória.
Enquanto que o Índice Concelhio dá-nos o valor total do concelho, o Índice de Poder de Compra Per Capita dá-nos o padrão de vida médio de cada habitante, dizendo-nos se há maior ou menor bem-estar material por cada habitante e isso dá-nos informação como a riqueza é distribuída em média por cada habitante.
Fomos tentar saber como esse valor está distribuído e como vai a vida de cada um dos torrienses, analisando dados do “Índice do Poder de Compra por Habitante”, também de 2021 do INE e verificamos que a história não é como a querem contar, porque caímos para o 59º lugar.
No Oeste somos ultrapassados por Caldas Rainha e Arruda dos Vinhos e no Centro passamos a 6º, enquanto no país baixamos praticamente 30 posições. Por exemplo, na Área Metropolitana de Lisboa, dos 18 concelhos, apenas seis ficam atrás de Torres Vedras.
Este é um sinal importante de alerta para uma distribuição desigual do poder de compra, que se torna preocupante quando vamos buscar outro índice, o da “Média Salarial dos Trabalhadores por Conta de Outrem”, em cada concelho. Os dados disponíveis por concelho são de 2019, do INE e colocam-nos em 93º lugar.
Estamos abaixo de Alenquer e Arruda dos Vinhos no Oeste, na Região Centro, dos 54 concelhos, 23 estão acima de nós. Na AML 14 estão à nossa frente. No país, onde há 18 capitais de distrito, estarmos em 93º lugar, dá para ter uma ideia do nosso nível salarial em comparação com tantos concelhos por esse país fora, que não são capitais de distrito.
Estes números indiciam que, apesar de globalmente termos um bom poder de compra, esse bolo está mal distribuído pela população, havendo desigualdade para a generalidade dos cidadãos. Para além disso, com tanta fama de endinheirados, acabamos por ter salários muito baixos. O 30º concelho em nível de poder de compra está em 93º em índice salarial médio por habitante.
Propagandear um dado isolado conveniente, pode levar-nos a pensar que tudo está bem para a população no acesso aos benefícios deste volume económico, logo, existe o perigo de se pensar que não fará sentido apostar em políticas de justiça social, bem como contribuir para perpetuar uma realidade económica assente em empregos menos qualificados com salários baixos, num modelo de desenvolvimento que acentua as desigualdades.
Em vez de festejarmos um dado meramente promocional, deveríamos estar preocupados em promover um modelo económico que atraia emprego mais qualificado e menos baseado em atividades económicas com baixos salários.
Em vez de celebrarmos uma suposta fartura, devíamos também ter como prioridade autárquica a promoção de mais justiça social, com políticas de equidade e apoio aos mais vulneráveis, combatendo a desigualdade na distribuição do rendimento, melhorando o acesso aos apoios sociais, aos serviços, à habitação e ao bem-estar em geral, que afinal, não beneficia todos da mesma forma.