Os runenses acordaram no dia 8 de março com árvores pintadas de azul, na zona onde está a ser planeada a construção de uma polémica Subestação Elétrica, entre Runa e Penedo, no concelho de Torres Vedras.
Ficou óbvio que se tratava de uma marcação para abate de duas dezenas de oliveiras centenárias e outras duas dezenas de enormes pinheiros bravos completamente saudáveis, que o projeto sempre planeou abater. Basta ver a planta da obra (em baixo) e a sua localização, onde se irão abater as oliveiras do lado esquerdo por baixo da Subestação e pinheiros ao longo do lado direito.
Foram colocadas faixas de protesto no local e, devido à ação da população, a empresa decidiu não efetuar os trabalhos, adiando a situação.
Face ao atentado que ali se prepara, de acordo com alguns runenses, mais tarde a autarquia ter-lhes-á dito, que ia agora transplantar as árvores.
Ora esta situação absolutamente caricata, levanta três questões de análise:
A primeira é que se torna óbvio que o impacte imediato da construção da Subestação vai ser abater mais de duas dezenas de oliveiras centenárias e pinheiros, para além da destruição de um caminho, onde pode haver vestígios de estrada romana. Veja-se ainda a distância às habitações de Runa e da casa na estrada de Penedo, bem como o que vai acontecer ao caminho e às árvores, nesta planta do próprio projeto da obra, onde os pinheiros se perfilam no lado direito.
A segunda linha de análise, é que se trata de um crime ambiental perfeitamente previsível de todas as entidades nacionais e locais envolvidas, que não podem agora vir dizer que não sabiam de nada, porque basta olhar para a planta de localização, integrada na página 92 do Projeto Geral de Execução, Volume 00, Tomo 0.4 do relatório Base do RECAPE, datado de 2019, que foi analisado, por institutos, autarquias e todos os envolvidos.
Numa imagem aérea do Instituto Cartográfico do Exército de 1948, já ali estão as oliveiras com porte assinalável.
A autarquia na sua participação na Consulta Pública, apenas se refere uma vez à Subestação de Tração de Runa, onde, não só ignora todos os aspetos arqueológicos, ambientais, paisagísticos, de PDM e proximidade a habitações, como ainda pede que a obra seja maior e comporte uma unidade de armazenamento elétrico para complementar as eólicas da zona, conforme ofício n.º 3309 de 27 de março de 2018, constante no documento “Modernização-da-Linha-do-Oeste-PE-Anexo-1-Declaração de Impacte Ambiental”.
A terceira constatação é que, vir agora a correr transplantar as árvores, quando se deu anteriormente o caso por encerrado, não é mais do que correr um grande risco de condenar as árvores à morte, na tentativa de tapar o sol com a peneira. Não se entende para que afinal se fazem estudos de impacte ambiental e paisagístico, ou se elencam sítios arqueológicos, quando depois não se fazem prospeções ou se tiram consequências. Pior, começa-se logo com um abate de árvores desta envergadura.
Por enquanto a população está expectante sobre qual será o novo desenvolvimento nesta situação, já anteriormente abordada num primeiro artigo aqui publicado, para quem tiver interesse em aceder a mais informação.
O mistério das árvores azuis está esclarecido, estão marcadas para morrer, resta saber como acaba a sua história.