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O dia em que Runa saiu à rua e salvou as árvores

O povo de Runa saiu à rua e impediu o abate de mais de 40 árvores no local previsto para a implantação de uma Subestação de Tração para alimentar a eletrificação da linha do Oeste. Os populares contestam a localização, bem como o abate destas árvores, nomeadamente duas dezenas de oliveiras centenárias e outros tantos enormes pinheiros bravos. A primeira árvore foi abatida, as seguintes continuam de pé graças à ação popular.

Quando a empresa de corte florestal, contratada pelas Infraestruturas de Portugal chegou ao local ontem, dia 18 de março, não pensou que tocasse uma sirene de alarme, instalada pela população que tem um sistema de vigilância para avisar de qualquer movimentação no local, através de uma vigília permanente.

Quando os primeiros populares chegaram, já uma árvore tinha sido cortada e a empresa estava preparada para continuar rapidamente o serviço, não fossem populares ocorrerem ao local e abraçarem-se às árvores.

A empresa fez-se acompanhar pela GNR, que questionou a presença do protesto popular, cuja legalidade nunca poderá ser posta em causa dado o direito inviolável à manifestação e à vigília, devidamente comunicadas às autoridades municipais. Mesmo que assim não fosse, estamos a falar num direito constitucional que nunca poderá ser posto em causa.

Dada a situação criada, o corte de árvores cessou e a empresa recuou, havendo uma progressiva acalmia no ambiente. A mobilização do povo parou um crime ambiental, que a empresa tentou pela segunda vez, mas sem sucesso.

Runa mostrou o que pode fazer uma população quando se une pelos seus valores e pela sua terra. A sirene está alerta e os runenses continuam a dar lições de unidade e de democracia, exigindo respeito, já que foram abandonados pelos seus representantes.

O que se está a passar em Runa deve merecer a indignação de todos nós, porque o património e a natureza fazem parte da nossa herança global.

O papel da autarquia é de um silêncio ensurdecedor, tendo ficado patente a inoperacionalidade da Câmara, que prometeu o transplante das árvores e possíveis reuniões com a IP, mas nada acontece, porque as motosserras estão a falar mais alto.

A autarquia deu o assunto por encerrado até há poucos dias atrás, mas agora vê-se confrontada com os protestos de uma população que não foi ouvida sobre esta localização e que agora se faz representar pela sua força e pelo amor à sua terra.

A construção da Subestação, para além dos inúmeros impactes negativos que provocará, começa logo pelo abate destas árvores, já previsto na planta do projeto. Os problemas da localização da Subestação são sobejamente conhecidos e bem desenvolvidos neste artigo:
Subestação Elétrica: Runa entregue à sua sorte
A modernização e eletrificação da linha do Oeste é uma obra inestimável, mas o progresso não se faz a qualquer preço.

Esta situação já motivou questões colocadas ao Governo em sede de Assembleia da República, pelo PCP e Bloco de Esquerda e está a indignar toda a população, que não entende como se ignoraram os impactes na natureza, na saúde e no património arqueológico, bem como foi ignorado o pedido da Agência Portuguesa do Ambiente para o estudo de outras alternativas, o que a IP nunca fez, nem tão pouco se fizeram prospeções e estudos no terreno face à proximidade de património arqueológico.

Um processo lesivo das populações, que necessita de ser urgentemente alvo de diálogo entre as entidades e a população, para se encontrar localização alternativa.