ODS 5 é nada mais nada menos do que a sigla para Objectivo de Desenvolvimento Sustentável 5 - Igualdade de Género, um dos 17 objetivos globais estabelecidos pelas das Nações Unidas em 2015 para serem atingidos até 2030. Este ODS pretende, entre outras metas, "garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, económica e pública1".
Em Torres Vedras, e apesar de finalmente termos uma presidente de câmara mulher, isto só aconteceu devido à trágica morte do seu antecessor Carlos Bernardes. Diga-se que este foi um presidente que reconheceu a importância dos princípios da sustentabilidade, para as gerações presentes e futuras, e que contribuiu para a adesão do município de Torres Vedras à plataforma Aliança Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) Portugal, comprometendo-se a incluir as boas práticas internacionais de desenvolvimento sustentável no planeamento e gestão municipais.
Em relação ao ODS 5, murais alusivos à temática da Igualdade foram criados em vários locais do Concelho, nomeadamente Campelos, centro da Cidade e Maceira em 2020 e 2021. Embora estas pequenas ações sejam importantes para despertar consciências, isto traduz-se em pouco ou nada em termos práticos. Um exemplo muito concreto são as próximas eleições autárquicas marcadas para Setembro de 2021.
A Comissão Política concelhia do Partido Socialista de Torres Vedras (partido no poder na CMTV) aprovou em Maio deste ano a lista dos candidatos à Presidência das 13 Juntas de Freguesia do Concelho e são todos homens. Acrescente-se que, atualmente, em 13 freguesias apenas 1 (União de Freguesias de Campelos e Outeiro da Cabeça) tem como presidente uma mulher - Natalina Luís. Ora isto está muitíssimo aquém da meta do ODS 5 que se pretende atingir daqui a apenas 9 anos, repito " garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, económica e pública". Infelizmente, o "palco" não é dado apenas aos homens na política, mas em muitas outras dimensões da nossa sociedade. Veja-se, por exemplo, os artigos de opinião deste Jornal que são quase sempre escritos por homens (e brancos).
Embora se afirme por aí que é difícil encontrar mulheres interessadas na vida política, estes argumentos são normalmente apresentados por homens e por isso muito pouco convincentes para as mulheres. O domínio masculino na política local tornou-se num ciclo vicioso, já que por não ser comum as mulheres estarem na liderança, ainda menos mulheres serão potencialmente atraídas (ou admitidas) a exercer tais cargos. E mais, eu não me lembro, por exemplo, de ver nenhum cartoon de crítica política (e viva a crítica política!) a um presidente de câmara homem, mas temos já um (Oh p'ra eles!!!) que retrata a nossa presidente da câmara, mulher, no Badaladas de 4 de Junho de 2021.
Concordo plenamente com o que disse Ana Gomes no seu espaço de opinião da SIC Notícias a 7 de Junho de 2021, quando se referia à nomeação da Major Diana Morais para o cargo de presidente do Comité para a Perspetiva de Género da NATO: "Só cepos, burgessos é que não percebem que esta [participação das mulheres em operações internacionais] é uma questão essencial de qualidade e de eficácia das missões2". Tirem daqui as vossas ilações quanto à importância da participação das mulheres nos restantes setores da nossa sociedade.