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Planear é melhor que correr atrás do Covid

Fomos confrontados, nos últimos dias, com um aumento esmagador do número de infetados com covid 19 em Torres Vedras, fruto de um surto com dimensão nunca antes vista no nosso concelho, nomeadamente nos trabalhadores agrícolas da zona de A-dos Cunhados e Maceira, com praticamente 100 casos novos em poucos dias. Estes números podem catapultar Torres Vedras como concelho de risco elevado, com 322 casos ativos no dia 20 de novembro, de acordo com a nova classificação oficial e mais perto do risco muito elevado do que nunca, com todas as consequências de medidas restritivas que podem vir a prejudicar a economia local em muitas dimensões, mais do que atualmente já se encontra.
Este surto de trabalhadores agrícolas levou a que tenha sido usado o Hotel Golf Mar para poder haver isolamento dos mais de 130 trabalhadores deslocados para esta unidade, devido a muitos serem de nacionalidade estrangeira e não haver condições de habitação para o seu isolamento, dado que partilham a mesma habitação.
O que muitos torrienses não sabem é que a autarquia foi alertada atempadamente para esta possibilidade e nada fez. Na Assembleia Municipal de 29 de junho o deputado municipal do Bloco de Esquerda, prevendo as campanhas agrícolas a iniciar em setembro, apresentou uma recomendação à Câmara para que prevenisse esta situação, nomeadamente através da elaboração de um pacote de recomendações específicas para esta atividade, em articulação com as empresas e a autoridade de saúde, bem como um acompanhamento sanitário permanente no sentido de prevenir e evitar contágios.
Esta proposta foi chumbada com os votos contra da maioria socialista, onde se incluíram os presidentes das Juntas de Freguesia das zonas agora mais afetadas, num concelho de grande atividade económica primária sazonal. Na ocasião os deputados do PS argumentaram que nada seria necessário, porque já existiam muitas normas e muitos cuidados nas explorações agrícolas e que dependeria dos comportamentos individuais prevenir os contágios e não fazer depender tudo da autarquia. Foi igualmente argumentado que o Bloco estava a querer fazer política fácil com propostas para se promover.
O fato de não haver normas específicas para esta atividade, bem como a prevista situação habitacional destes trabalhadores, não era apenas uma preocupação do Bloco de Esquerda, pois muitas outras autarquias e empresas agrícolas do Oeste o foram exigindo publicamente às autoridades de saúde, preocupadas, precisamente, com as campanhas agrícolas, como por exemplo da pera rocha.
Não podemos dizer que este surto grave aconteceu, por não ter havido uma planificação e uma vigilância ativa das autoridades locais, mas também não se pode dizer o seu contrário, ficando este sabor amargo de que muitas coisas poderiam ter sido pensadas com tempo. O mesmo aconteceu com os transportes escolares, onde depois se anda a correr atrás do prejuízo. Também a nível nacional se percebe hoje, que o Governo não fez o trabalho de casa durante o Verão, quando se sabia da mais que provável segunda vaga.
Fazendo votos que se contenha este surto e não haja consequências para a saúde e para a economia, assinala-se, no entanto, a necessidade de mais diálogo e contributo das diversas organizações locais para este combate comum.