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Promotorres: de insaciável a essencial

Muitos torrienses se questionam como pode continuar e existir estacionamento pago, com fiscalização a passar multas, numa altura em que estamos confinados? Não se entende como possa ser um serviço essencial. Pior que isso, as pessoas que circulam, ou estão em profissões essenciais, ou vão a consultas, ou cuidar de idosos, ou fazer compras, etc., logo parece-nos injusto que sobre elas recaia este encargo, nesta altura difícil.
Só se pode entender esta situação com a necessidade de financiamento da Promotorres e da sua imensa máquina, paralela à autarquia, que se transformou num monstro faminto, com mais de 2 milhões e 600 mil euros de volume de negócios por ano e 54 funcionários, para os quais é gasto cerca de 1 milhão de euros em vencimentos, incluindo administração.
Esta empresa municipal foi criada pela Câmara Municipal de Torres Vedras com o objetivo de agilizar a realização de eventos. Inicialmente destinada a organizar o Carnaval e a Feira de S. Pedro. Hoje a Promotorres é responsável também pelo Ocean Spirit, Carnaval de Verão, Be Fashion Santa Cruz, Feira Rural, Festival das Vindimas, Feira da Saúde e Feira de Viaturas Usadas, apoiando ainda a Câmara na realização de outros eventos, com apoio logístico e recursos humanos.
Para além disto a empresa municipal, onde a autarquia é a única acionista, tem a seu cargo a gestão do Mercado Municipal e das Agostinhas, do Mercado Abastecedor, da Expotorres, dos parques de estacionamento cobertos da Câmara e do Mercado e de todos os parquímetros e coimas do estacionamento em Torres Vedras.
Mas não vive sem grandes transferências de capitais da autarquia, porque os eventos não serão lucrativos. Ou seja, é empresarial no apresentar de contas e agilizar os negócios, mas depois é autárquica quando toca a financiar-se do dinheiro dos contribuintes.
Para as atividades e eventos a Câmara transfere mais de 600 mil euros. Os rendimentos do estacionamento e da gestão do mercado, são mais de 800 mil euros. Mesmo assim em 2019 os prejuízos foram quase 85 mil euros, (um ano sem Covid) e em 2020 os prejuízos foram de 140 mil euros.
Com estas despesas de pessoal e funcionamento, percebe-se porque os parquímetros e as multas continuam em funcionamento, pois parece que o essencial é afinal alimentar um monstro sem controlo sobre o qual nem a autarquia parece ter mão.
A contabilidade da Promotores deveria ser muito mais escrutinada e bem explicada, no campo da sua estrutura, adjudicações e negócios. Faltam vir a público muitos detalhes e a apresentação de contas deveria ser bem mais desenvolvida. Estamos a falar de dinheiro público, exigindo-se transparência e informação pública.
Muitas empresas municipais, por esse país fora, servem supostamente para ”agilizar”, mas acabam por realizar operações económicas mais opacas, dar empregos ao partido e fazer contabilidade e negócios sem a transparência exigida a uma autarquia.
A Câmara de Torres tem vereadores eleitos, responsáveis pela cultura, animação, eventos e promoção do concelho, será mesmo necessário este poder dentro do poder?