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O glifosato mata o pato, o gato, a abelha, o caracol…

Uso de herbicidas em Portugal entre 1990 e 2018 (Fonte: FAOSTAT)

O glifosato é um composto químico que impede o desenvolvimento de organismos vivos, mais especificamente de ervas “ditas” daninhas ou infestantes, que povoam as bermas das estradas e caminhos, e os campos agrícolas. O glifosato é produzido pela multinacional Monsanto, recentemente comprada pela alemã Bayer, e comercializado sob o nome Roundup, sendo um dos herbicidas mais utilizados no mundo. Em 2015 foi classificado pela Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC- acrónimo em inglês) como sendo um agente cancerígeno de Classe 2A, ou seja é provavelmente cancerígeno para humanos, existindo evidências suficientes de que é cancerígeno para os animais. Em 2019 a Bayer foi condenada a pagar uma indemnização de 71 milhões de euros a um homem com linfoma não-Hodgkins devido ao uso do herbicida Roundup. Em 2020 a Bayer concordou pagar 9,7 mil milhões de euros para fechar cerca de 100 mil processos de pessoas que acusaram este herbicida de lhes causar cancro.

Ainda em 2020 foi publicado um estudo liderado pelo Universidade Católica Portuguesa1 que detetou a presença de glifosato na urina de um grupo amostra de adultos em Portugal. Uma das consequências do uso intensivo de glifosato é a contaminação dos rios e ribeiras, e de águas subterrâneas.

No México foram já encontrados vestígios de glifosato em água engarrafada2 e nos Estados Unidos da América o glifosato tem sido detetado em muitos dos seus rios3. O glifosato entra no nosso organismo através da água que bebemos, da ingestão de alimentos regados e/ou preparados com água contaminada, ou absorvido pela pele durante o banho com água contaminada.

Tem sido tanta a evidência sobre os efeitos nefastos do glifosato na saúde humana e no ambiente que, em 2014, a Quercus lançou a Campanha Autarquias sem Glifosato, com a colaboração da Plataforma Transgénicos Fora.

Em 2016 a Câmara Municipal de Torres Vedras aderiu a esta campanha assumindo a sua “preocupação pelos riscos ambientais e de saúde inerentes à aplicação de herbicidas em espaços públicos, com a promessa de que “irá promover a utilização de métodos alternativos, assim como a opção zero, ou seja, a possibilidade de, em áreas marginais, a natureza poder manifestar a sua rica biodiversidade, até porque muitas ervas têm grande potencial alimentar e medicinal”4.

No entanto, muitas freguesias do concelho (a.s. São Pedro da Cadeira) continuam a aplicar este produto em bermas de estradas e até junto a escolas e infantários. Ora o Decreto-Lei n.º 35/2017 diz que “não são permitidos tratamentos fitossanitários com recurso a produtos fitofarmacêuticos a) Nos jardins infantis, nos jardins e parques urbanos de proximidade e nos parques de campismo; b) Nos hospitais e noutros locais de prestação de cuidados de saúde bem como nas estruturas residenciais para idosos; e c) Nos estabelecimentos de ensino, exceto nos dedicados à formação em ciências agrárias.”

As plantas "ditas" infestantes são autóctones (nativas) e proporcionam-nos inúmeras vantagens, nomeadamente proteger os solos da erosão, promover a atividade biológica do solo, albergar muitos insetos predadores de pestes de culturas agrícolas, nutrir insetos polinizadores essenciais à produção agrícola (a.s. abelhas). O extermínio destas plantas reduz o habitat disponível para insetos cruciais ao saudável funcionamento dos ecossistemas, levando por exemplo à redução das populações de pequenas aves que deles se alimentam.

Para além disso, a beleza que estas plantas dão aos campos e bermas de estradas e caminhos durante a Primavera contrasta totalmente como a vegetação morta e amarelada que fica depois da aplicação de glifosato, ainda para mais deixando todo o lixo (outro problema de saúde pública) bem visível uma vez que este não é retirado.

Em São Pedro da Cadeira, a variedade de plantas autóctones é enorme (consultar Flora-on.pt5 ou simplesmente fazer uma caminhada) e deve ser valorizada e preservada pelos seus benefícios ambientais e pela sua contribuição para o bem estar humano. No entanto está a ser destruída, com consequências negativas para a saúde das pessoas.

Em Cambelas, zonas de aplicação de glifosato incluem os muros do infantário, as bermas de terras agrícolas com couves plantadas, poços e áreas exteriores de casas habitacionais com animais de guarda. Infelizmente verifica-se uma tendência crescente na utilização de herbicidas em Portugal (ver Figura). Informação sobre a quantidade utilizada por ano e número de aplicações não é disponibilizada pela Freguesia e o executivo continua a fazer orelhas moucas à

recomendação da Autarquia, nomeadamente a de ter zero glifosato no concelho.

1 Nova et al. 2010 (DOI:10.1016/j.etap.2020.103462)

2 Rendón-von Osten e Dzul-Caamal 2017 (DOI: 10.3390/ijerph14060595)

3 https://toxics.usgs.gov/highlights/glyphosate02.html

4 http://cm-tvedras.pt/artigos/detalhes/camara-municipal-adere-a-campanha-da-quercus-autarquias-sem-glisofato/

5 https://flora-on.pt/#/1MD63

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